Após diversos estudos, pôde-se perceber que o câncer poderia sofrer intervenções de origem preventiva tanto primária quanto secundária.
O sucesso da prevenção de câncer se baseia na detecção precoce (prevenção secundária) e na mudança de hábitos pessoais, procurando eliminar fatores causais do câncer (prevenção primária).
Atuar de maneira profilática contra a doença consiste em eliminar os fatores de risco que levariam ao seu aparecimento. Para tanto, é necessário o conhecimento de tais fatores, sejam eles únicos ou múltiplos, e da história natural da doença.
No caso das doenças tumorais, nem sempre há apenas um único agente envolvido. Há muitas vezes vários fatores causais, como a predisposição genética, por exemplo.
O que fazer, então, para diminuir a ocorrência dos diversos tipos de câncer?
Como atuar na prevenção primária, eliminando os fatores de risco, se muitas vezes não é possível visualizar um fator primordial e, mesmo que se consiga, tal fator atua de maneira diferente em cada indivíduo?
Vê-se, portanto, que a prevenção primária se faz muito distante de ser alcançada efetivamente.
Contudo, a prevenção secundária, ou seja, o emprego de técnicas para o diagnóstico precoce, sobretudo nas populações mais expostas a fatores de risco, com forte herança familiar ou mesmo já com a doença em fase subclínica (inicial), tem se mostrado bem mais eficaz.
Sabe-se que cerca de ¾ dos cânceres são provocados por causas externas, como exposição a radiações ionizantes, alimentos, drogas e medicamentos, vírus, toxinas, poluentes e hábitos danosos, como tabagismo e o consumo alcoólico. Entretanto, ainda assim não foi possível reverter efetivamente as estatísticas de câncer, pois a exposição aos fatores de risco parece aumentar cada dia mais.
A detecção precoce do câncer (também conhecida como screening) significa fazer o diagnóstico do câncer no seu estágio chamado pré-sintomático, isto é, antes que a pessoa apresente qualquer sintoma relacionado com a doença ou apresente alguma alteração no exame físico realizado pelo médico. A detecção precoce é responsável pela redução de mortalidade pelo câncer e o tratamento do câncer em seus estágios iniciais é, em geral, bem menos agressivo do que em fases mais avançadas.
A detecção precoce de câncer certamente beneficia o paciente, sua família, a sociedade, bem como quem custeia sua saúde, seja o próprio indivíduo, a empresa em que trabalha ou o Estado.
A maioria dos cânceres apresenta uma história clínica com antecedentes pessoais e familiares que permitem uma seleção inicial (questionário) das pessoas de maior risco que precisam de avaliação clínica. Com uma avaliação clínica direcionada seleciona-se a indicação de exames complementares adequados.
O exame clínico é o exame mais comum e mais realizado para a detecção do câncer. Em uma consulta de rotina, podem ser identificados, por exemplo, o câncer de pele, boca, laringe, colo uterino pela simples observação. A palpação é capaz de detectar nódulos ou tumores no seio, na tireoide, próstata, testículos, ovários, pescoço, dentre outros. Exame clínico e palpação são procedimentos fáceis, de baixo custo e que causam um desconforto mínimo.
Assim, através dessas três etapas com execução criteriosa e rigorosa (questionário – avaliação inicial, exame clínico, exames complementares) é possível desenvolver um Programa de Prevenção e Detecção Precoce de Câncer eficiente.
FUNDAMENTOS E LIMITES DA PREVENÇÃO
- Permite a detecção de neoplasia (câncer) em fase precoce, aumentando as chances de cura e sobrevida, já que a cura de qualquer tipo de câncer é tanto maior quanto mais inicial é a fase em que são diagnosticados e tratados.
- Atua em população assintomática que não procuraria espontaneamente atenção médica.
- A não detecção de câncer não significa que a pessoa nunca venha a desenvolver câncer. Apesar do progresso, existem os limites da medicina, limites dos exames utilizados, e a própria evolução do organismo humano são limitações da prevenção. A negatividade da avaliação inicial não deve ser interpretada como garantia de que essa pessoa nunca virá a ter câncer.
QUEM DEVE FAZER PARTE DE PROGRAMA DE PREVENÇÃO DE CÂNCER?
- Assintomáticos maiores que 20 anos (mulheres) ou de 40 anos (homens).
- Assintomáticos com história familiar de câncer, maiores que 25 anos.
- Portadores de doença predisponente ao câncer.
- Sintomáticos sem diagnóstico
Quem já acompanhou de uma forma ou de outra o tratamento de alguém com câncer avançado sabe o quanto isto custa do ponto de vista econômico, emocional e de qualidade de vida. Sem dúvida alguma, a melhor forma de combater o câncer é através de sua prevenção e detecção precoce, o que permite tratamentos mais simples e curativos.
Mas além, da prevenção seja ela primária ou secundária, percebeu-se que pacientes oncológicos também poderiam sofrer a intervenção terciária, onde são tratados de maneira adequada, sobrevivem e voltam às suas atividades normais.
Quando o paciente sobrevive, necessita ser reintegrado à sociedade. Assim, faz-se obrigatória a reabilitação, bem como cuidados paliativos para aqueles pacientes que não possuem mais chances de cura ou usados para prolongamento da vida.
Assim, a busca pela qualidade de vida, ou pela dignidade de uma morte com menor sofrimento possível, é imprescindível.
O paciente passa a ser alvo de todos os cuidados multiprofissionais e seus familiares e cuidadores passam a ser vistos como agentes cujo sofrimento deva ser amenizado.
A humanização na área do câncer obriga os profissionais a saber lidar, tanto com os pacientes que estão vivendo a expectativa de um diagnóstico, quanto com aqueles que não resistem a doença, bem como com todos os seus familiares e cuidadores.
A real prevenção começa com a adoção de um estilo de vida com dieta balanceada, manutenção de peso adequado, ter atividade física regular, não fumar, dormir bem, usar álcool com moderação, cultivar amizades e fazer avaliação médica de prevenção regularmente (prevenção primária).
Na história natural do câncer existe um longo período entre seu início e manifestação clínica (fase assintomática). Entretanto, após o início dos sintomas, a evolução do câncer é mais rápida, diminuindo na mesma velocidade as chances de cura. A detecção precoce (prevenção secundária) geralmente é realizada na fase assintomática. Daí, a importância da iniciativa individual em fazer a prevenção, uma vez que não se têm sintomas.
Infelizmente, por não haver um consenso e ser complicado definir estratégias de prevenção primária, rastreamento e detecção precoce, cabe a todos os indivíduos a conscientização do autoexame, à atenção a sintomas, à alterações do padrão habitual do funcionamento do corpo, afim de procurar serviço médico o quanto antes. E cabe também aos profissionais da saúde estarem atentos a todas as queixas dos pacientes, a fim de direcioná-los da forma adequada para exames de rastreamento e diagnóstico precoce.
Portanto, é nítido que o diagnóstico precoce é o grande responsável pelas inúmeras possibilidades de cura e contribui para que o câncer seja encarado como doença tratável.
Cuide-se e aproveite os recursos que existem hoje para viver de modo mais saudável.