JANEIRO BRANCO

Estar mentalmente saudável, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) é o estado de bem-estar no qual uma pessoa consegue desempenhar suas habilidades, consegue lidar com as inquietudes da vida, é capaz de trabalhar de forma produtiva e contribuir para a sua comunidade. No entanto, as situações do cotidiano mostram que cada vez menos estamos conseguindo levar a vida dessa forma: existe um aumento dos casos de violência, uso de drogas, transtornos compulsivos, suicídio, intolerâncias, entre outros.

Para lembrar as pessoas de cuidarem não só da saúde física, mas também da mental, psicólogos brasileiros criaram a campanha Janeiro Branco, que usa o mês em que tradicionalmente as pessoas estão mais focadas em resoluções e metas para o ano para instigar nelas um maior cuidado com o seu bem-estar psíquico.

A depressão tem se tornado um dos mais urgentes desafios em saúde pública, acometendo quase 6% da população brasileira. A OMS revelou que a depressão tem um grande efeito na saúde quando associada a uma doença crônica como o câncer. No mundo todo, 350 milhões de pessoas sofrem com a depressão. A Organização Mundial de Saúde também alerta que o transtorno pode afetar pessoas de qualquer idade e em qualquer etapa da vida e levar a graves conseqüências.

Pacientes que sofrem com depressão severa costumam relatar sofrimento com insônia, ansiedade, dores, fadiga, desânimo, distúrbios de pânico, entre outros.

Assim, cuidados com saúde mental também são importantes no tratamento de câncer.

Lidar com um câncer e superá-lo não é tarefa fácil, e por isso alguns pacientes costumam precisar de apoio para manter a saúde mental durante o tratamento. O impacto psicológico das doenças varia de caso a caso, mas é bastante comum em alguns tipos de câncer, como o de mama. O impacto psicológico do diagnóstico de câncer de mama é brutal e toda mulher que passa por isso sofrerá um processo de luto em algum momento no decorrer do tratamento ou mesmo após o seu término.

Desordens depressivas afetam mais de 38% dos pacientes com câncer; persistem de maneira mais acentuada durante o tratamento, quando há progressão da doença e ainda diante de estresse econômico, pois muitos pacientes se afastam de suas atividades profissionais, o que diminui sua renda, acarretando um impacto negativo na vida dos pacientes e de seus familiares.

Além dos próprios pacientes, os cuidadores de pessoas que sofrem com o câncer também têm sua saúde mental afetada. Como eles costumam percorrer junto com o paciente a longa jornada de tratamentos, eles costumam sofrer com as repercussões do estresse dessa situação. Um estudo mostrou que dentre os cuidadores de pacientes com câncer, 57% apresentavam sinais de ansiedade e 45% de depressão.

Infelizmente, médicos e pacientes geralmente consideram a depressão como parte reacional ao câncer, por isso, ela não é diagnosticada e, conseqüentemente, é subtratada em pacientes com câncer, resultando em um aumento da morbidade e da mortalidade.

É inegável que o diagnóstico de câncer tem um impacto no paciente, mas cada pessoa reage de uma maneira a ele. Medo, ansiedade e dúvidas sobre o que irá acontecer a partir daquele momento podem surgir e a depressão pode aparecer em alguns pacientes durante o tratamento. Pessoas que já tiveram o transtorno antes da descoberta do câncer têm mais chance de apresentar episódios depressivos.

Fatos chocantes na vida de um indivíduo podem conduzi-lo a um estado depressivo. Muitos fármacos presentes em alguns tipos de quimioterapia também podem causar depressão. Esses medicamentos são essenciais para o tratamento do câncer e devem ser corretamente utilizados. O paciente e a equipe médica devem ficar atentos para a ocorrência dos sintomas de depressão, não para suspender a quimioterapia, afinal ela é prioritária, mas para que o adequado tratamento farmacológico e psicoterápico possa ser implementado contra a depressão.

A quimioterapia pode provocar alguns efeitos colaterais no paciente como cansaço, desânimo, fraqueza. Mas é importante que familiares e a equipe médica fiquem atentos a outros sinais que podem indicar depressão, como: tristeza muito constante e que não passa, crises de choro, pensamentos pessimistas, falta de esperança no futuro, irritabilidade elevada no contato interpessoal, isolamento, discursos envolvendo morte ou mesmo o desejo aberto de morrer, sentimentos de culpa e de inutilidade.

Um paciente depressivo pode, por exemplo, deixar de ir a consultas médicas ou a sessões de quimioterapia e isso é extremamente prejudicial para o tratamento do câncer. Por isso, é importante identificar os sinais do transtorno e cuidar. Todo esse cenário depressivo deve ser considerado frente à comparação com o estado anterior do mesmo indivíduo. Em casos de depressão, haverá uma história de instalação gradual e progressiva dos sintomas. Isso pode ser em questão de semanas a meses.

A depressão não apenas produz sofrimento, como também proporciona uma piora na qualidade de vida do paciente e de seus familiares, podendo prolongar períodos de hospitalização, por exemplo.

Diagnosticada a depressão, o tratamento, que poderá consistir em psicoterapia e medicamentos, será definido pelo psiquiatra que avaliará todo o quadro do paciente. A boa regulação do sono é essencial nesses casos também e quando a insônia estiver associada ao quadro, esse fator deve ser corrigido.

Como parte da campanha Janeiro Branco, os psicólogos também sugerem que as pessoas possam ser mais sinceras e transparentes com os seus desafios psicológicos, buscando ajuda e apoio sempre que necessário.

Confira algumas das medidas que a campanha Janeiro Branco sugere para ajudar as pessoas a buscarem uma saúde mental e emocional mais plena.

REFLITA: como transformar as situações da sua vida e torná-la mais positiva.

ACEITE OS CICLOS: assim como os anos que se iniciam e acabam, a vida também é feita de ciclos. Esteja pronto para concluir os ciclos que não te fazem bem e se prepare para os novos que irão começar!

Conversar sobre depressão é o primeiro passo.

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Renata Mattos
Graduada em Enfermagem pela Universidade Estadual Paulista - Júlio de Mesquita Filho (Unesp) desde 2006. Voluntária em projetos sociais de apoio ao paciente com câncer. Enfermeira-chefe do Instituto de Oncologia de Mogi das Cruzes-SP de 2009 a 2019. Atuou como docente de Enfermagem na Universidade de Mogi das Cruzes e hoje dedica-se a projetos pessoais no auxílio ao paciente com câncer e seus familiares com o auxílio de terapias holísticas e integrativas como aromaterapia e ayurveda.
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